Zumbi, o maior herói negro do Brasil, o homem em cuja data de morte se comemora em muitas cidades do país o Dia da Consciência Negra, mandava capturar escravos de fazendas vizinhas para que eles trabalhassem forçados no Quilombo dos Palmares. Também sequestrava mulheres, raras nas primeiras décadas do Brasil, e executava aqueles que quisessem fugir do quilombo.
Essa informação parece ofender algumas pessoas hoje em dia, a ponto de preferirem omiti-la ou censurá-Ia, mas na verdade trata-se de um dado óbvio. É claro que Zumbi tinha escravos. Sabe-se muito pouco sobre ele – cogita-se até que o nome mais correto seja Zambi – mas é certo que viveu no século 17. E quem viveu próximo do poder no século 17 tinha escravos, sobretudo quem liderava algum povo de influência africana.
NARLOCH, Leandro. Guia politicamente incorreto da história do Brasil.
Sobre Zumbi no Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil (4/4)
ResponderExcluirUma análise em quatro partes sobre aquilo dito de Zumbi nessa polêmica obra. Abordaremos aqui os principais trechos do livro relacionado ao líder negro do Quilombo dos Palmares principalmente no que diz respeito ao capítulo Zumbi tinha escravos. Temos na obra, entre outras coisas, o seguinte:
D) “Para obter escravos, os quilombolas faziam pequenos ataques a povoados próximos. ‘Os escravos que, por sua própria indústria e valor, conseguiam chegar aos Palmares, eram considerados livres, mas os escravos raptados ou trazidos à força das vilas vizinhas continuavam escravos’, afirma Edison Carneiro no livro O Quilombo dos Palmares, de 1947”. (Narloch, Guia Politicamente Incorreto da Historia do Brasil)
Se alguns escravos foram à força para o Quilombo dos Palmares, naturalmente podemos entender com isso que havia escravos dentro do Quilombo. Todavia, estes seriam, nesse caso, os escravos dos senhores de engenho, não necessariamente escravos do Quilombo. Além disso, em nenhum momento da obra de Edison Carneiro é dito que negros são lá (no Quilombo) escravizados, pelo contrário, o autor diz logo na abertura do livro o seguinte:
“A floresta acolhedora dos Palmares serviu de refúgio a milhares de negros que se escapavam dos canaviais, dos engenhos de açúcar, dos currais de gado, das senzalas das vilas do litoral, em busca da liberdade e da segurança, subtraindo-se aos rigores da escravidão e às sombrias perspectivas da guerra contra os holandeses.” (Edison Carneiro, O Quilombo dos Palmares)
Logo, seria muito estranho enxergarmos negros sendo escravizados dentro do Quilombo, mas totalmente lógico compreender que havia negros escravos dos senhores de engenho naquelas terras que haviam sido roubados. Essa parte é condizente com outras partes da carta anônima de Fernão Carrilho em 1687, comandante de várias expedições aos Palmares. Trechos dessa carta são citados por Edison Carneiro quando este toca no constante estímulo dos mocambos dos Palmares para os escravos das redondezas. Acredito ser importante mostrar na integra o trecho do livro. Vejamos:
“Ora, na sua carta anônima de 1697, Fernão Carrilho, comandante de várias expedições aos Palmares, dizia, peremptoriamente que ‘os negros, o em que se fiam mais para obrarem maldades é dizerem que seus senhores o que lhes podem fazer é açoitá-los, mas que matá-los não, porque os brancos não querem perder o seu dinheiro’. Os escravos das vilas vizinhas eram, assim, recrutas potenciais dos Palmares, “uns levados do amor da liberdade, outros do medo do castigo, alguns induzidos pelos mesmos negros, e muitos roubados na campanha por eles”. (Edison Carneiro, O Quilombo dos Palmares)
Aqueles, por conseguinte, forçados em direção a Palmares não eram escravizados, mas recrutados para a luta. Não sem motivo diz o autor que bastava a esses escravos roubados libertar um negro cativo para voltar à casa do senhor de engenho, uma “alforria”, se assim eles desejassem. Tal como podemos ver aqui:
“Os escravos que, por sua própria indústria e valor, conseguiam chegar aos Palmares, eram considerados livres, mas os escravos raptados ou trazidos à força das vilas vizinhas continuavam escravos”. E continua: “Entretanto, tinham uma oportunidade de alcançar a alforria: bastava-lhes levar, para os mocambos dos Palmares, algum negro cativo”. (Edison Carneiro, O quilombo dos Palmares)
Em suma, foi uma maneira encontrada para fortalecer a campanha e ter a maior quantidade possível de negros libertos. Outros pontos são abordados por Leandro Narloch na obra dele, mas nada na obra que venha a fixar concretamente a ideia de Zumbi ter sido um escravocrata nos moldes dos senhores de engenho. O feito por estes visava à continuidade da exploração e o Quilombo dos Palmares e Zumbi a liberdade do seu povo.